Olá, pessoal, boa tarde.
Nada mais óbvio do que escrever sobre nossos pais nesse dia, desejar muitas felicidades para todos eles, compartilhar nossa alegria com quem ainda tem seu pai por perto, falar um pouquinho das saudades de quem já não tem mais, essas coisas… Mas como vocês que me acompanham aqui sabem que passei um ano muito complicado com meu pai nos últimos tempos, vou me permitir ser um pouquinho óbvia e escrever sobre isso hoje, sim.

Eu e meu pai na visita que ele fez à Mega
Ano passado, exatamente no Dia dos Pais, o meu saiu da UTI pela segunda vez durante seu tempo de internação (11 meses), passando para um quarto na semi-uti do hospital (ele ainda voltaria para a UTI mais uma vez, no começo desse ano), mas seu estado ainda era bem complexo, os médicos estavam apreensivos e nós muito assustados, afinal ele tinha passado por uma recaída feia, as coisas estavam bem complicadas. Me lembro que fiquei no hospital com ele naquele domingo até a noitinha, quando a cuidadora chegou para passar a noite com ele. Foi um dia tenso, triste, meio tumultuado, deixei o almoço com meu marido e meu sogro para ficar lá, não foi muito legal.
Esse ano foi bem diferente. Ontem eu, minha família e irmãos nos reunimos na casa dele a noite para comer uma pizza e comemorar o Dia dos Pais de um modo bem diferente: ele está em casa, cada vez melhor, já andando de andador (logo estará andando sozinho, atualmente esse é seu objetivo), e prestes a receber uma homenagem da prefeitura de São Bernardo do Campo (meu pai foi diretor da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo duas vezes, vice-diretor outras duas e ainda é professor titular da faculdade). Para essa homenagem resolvemos gravar um vídeo e cada um de nós, seus 4 filhos (eu e meus irmãos) foi chamado para deixar lhe deixar uma mensagem.
Bem, tentando fazer com que ele não desconfiasse de uma movimentação esquisita na sua copa-cozinha, lá fomos nós falar para uma câmara alguma coisa siginificativa… E quando chegou minha vez, a produtora do vídeo me falou para falar aquilo que fosse mais representativo sobre meu pai para mim. Parece fácil, não é? Mas eu não sabia que isso seria assim (meu irmão armou tudo, disse que iriam apenas pegar imagens nossas, mas não era nada disso) e eu não me preparei nem um pouco. O jeito foi falar com o coração…
E falar com o coração para mim foi falar do amor incondicional que sinto pelo meu pai, falar de como ele nos ensinou a amar, amar nossos irmãos, amar aos pais, amar nossa família, amar nossos filhos, amar nosso trabalho. Falei da lembrança mais forte que tenho do meu pai, que foi quando ele foi me visitar no hospital, logo depois de eu dar à luz meu primeiro filho, Rafael, que também foi o primeiro neto e sobrinho da família. Eu estava com o Rafa no colo, recém-nascido, ainda meio abobada e ele disse: “O amor que sentimos por um filho é tão grande e especial que quando o pegamos no colo pela primeira vez nos perguntamos como conseguimos viver até então sem ele.” Aquilo me marcou demais, demais. E há definição melhor para esse amor de pai para filho, de mãe para filho do que essa? Se há, eu nunca vi. Acho que foi isso o que de mais importante meu pai me ensinou, meu pai me ensinou a amar.
Pois é, é isso que sinto pelos meus filhos e foi isso que senti por meu pai durante esse tempo ruim da sua internação, um amor incondicional e avassalador. Naquele período ruim eu me perguntava: “Como vou viver sem ele daqui para frente?” Achei que não conseguiria. Mas ele ainda está aqui, nós lutamos muito para que ele ficasse bem (ele, inclusive) e o momento é de comemorações. Muito bom!
Ontem, na verdade, foi um dia muito emotivo para mim, não apenas pelas emoções que passsei com meu pai mas também porque eu tive o meu “momento mãe”. Passei um sábado ótimo com minha filha, um dia “das meninas”. O tempo estava muito bom, meus meninos (marido e filhos) não queriam sair de casa (para eles sinônimo de sábado bom é sábado em casa) e eu e a Ana teríamos o dia inteiro para nós – ela tinha chegado na noite de sexta-feira de Botucatu, onde mora e estuda, no interior de São Paulo.

Um dos nossos roteiros preferidos, a Livraria Cultura
O programa escolhido? Um dos nossos preferidos, ir até a Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Av. Paulista, passear pela rua Augusta, passando por algumas das nossas lojas preferidas e terminar com um cinema bacana (o filme escolhido foi Melancolia, do Lars Von Trier – ótimo, aliás).

Ana em nosso almoço
Começamos almoçando na livraria, um sanduíche leve com salada e suco. Acho uma delícia almoçar, comer alguma coisinha ou tomar um café naquele cenário de prateleiras e mais prateleiras de livros. Adoro! A Ana é apaixonada por livros também, a gente sempre acha alguma coisa nova e bem bacana por lá, muito bom…

Nosso almoço
Enquanto comíamos ela começou a me contar, empolgada, sobre seus novos projetos na faculdade, sobre a área que ela pretende seguir e sobre seus planos para o ano que vem. A Ana está no último semestre da faculdade de Biologia e em 2012 ela pretende viajar para fazer algum estágio ou curso fora do país. Ela pensa ir para a Austrália, e enquanto ela falava sobre tudo, me dei conta de como eu gosto da companhia dessa garota e de como vou sentir sua falta quando ela for tocar sua vida longe de nós. Confesso até que fiquei um pouco triste. Como assim, Ana, e quem vai fazer um programa gostoso como esse comigo? Quem?
Mas ok, nossos filhos têm suas próprias vidas, estão aqui para vivê-las e não para nos satisfazer, então tenho que ficar feliz por ela, foi o que pensei. A Ana é a menina mais determinada, decidida e independente que eu já conheci. Ela é, em muitos aspectos muito, muito diferente de mim, por isso eu a admiro muitíssimo, sou fã dela. Sem contar que ela é encantadora, linda, charmosa, elegante.
Ela é minha filha do meio, está com 21 anos, o Rafael completa 24 esse mês e o Lucas fez 16 anos em maio. Eu nunca tive dúvidas de que seria mãe. Na verdade a única certeza que eu tive na vida é que seria mãe. Sempre. Mas quando fiquei grávida pela primeira vez eu tinha outra certeza, sabia que seria um menino, sabia. Não me perguntem como – acho que era intuição de mãe mesmo porque eu não fiz ultrassom – na época o exame era caro, nós não tínhamos plano de saúde e meu médico era daqueles da “velha guarda”, os exames eram no consultório mesmo, ele não pediu o ultrassom e eu não fiz. E eu não sonhava com essa coisa de filha menina, com vestidinhos e lacinhos, eu me imaginava mãe de garotos, com suas bermudinhas e camisetas polo, então mesmo sem ter certeza, comprei um monte de roupinhas azuis, lençóis com desenhos de aviões e carrinhos, essas coisas.
Quando fiquei grávida de novo, aí sim comecei a querer muito uma menina. Eu já tinha o Rafa, então uma menina seria perfeito. Mais uma vez não fiz ultrassom e no dia do parto ficava perguntando ao médico “É menina? É menina?” e o médico dizendo “Não sei ainda não dá para ver… ah, espere parece menina, tem cara de menina, ah é menina mesmo!” Eu fiquei radiante, vocês podem imaginar… E ela era toda bonitinha com seus cabelinhos bem morenos e enroladinhos e a pele bem branquinha.
Mas a Ana é assim, especial, e com dois meses ela só chorava – começou a perder peso, eu não sabia mais o que fazer. O pediatra dela me falou, então, para oferecer uma mamadeira porque poderia ser alguma dificuldade com a amamentação. Parecia estranho, eu tinha leite e havia amamentado o Rafael por 1 ano e 7 meses, mas segui a orientação e preparei 100ml de leite, para começar aos poucos. Ela tomou tudo com tanta vontade que eu não pude deixar de desmoronar e chorar que nem uma boba, ela estava com fome, era o que eu pensava. E, claro, fiz mais uma mamadeira na hora, que ela tomou até o fim.
Em pouco tempo, quando aprendeu a segurar a mamadeira, Ana nem ficava mais no colo, preferia ficar no carrinho e tomar seu leite sozinha. A Ana é assim. Imagino que o que ela não gostava era do contato físico, de ficar no colo. Nós não tínhamos que fazê-la dormir, mesmo desde muito pequenininha, quando tinha sono ela dizia “quero dormir”, pegava seu paninho, suas 3 chupetas e ia para o berço.
Para entrar na escola foi assim também, uma decisão dela. Um dia fui levar o Rafael para a escolinha e ela foi comigo, entrou e disse que queria ficar lá também. Não chorou ao se despedir de mim, na verdade nem sequer olhou para ver se eu estava lá ou não, simplesmente decidiu ficar. E vejam, ela tinha menos de 3 anos quando isso aconteceu, dá para acreditar? Tão diferente dos meus meninos que choraram muito nos primeiros dias de escola e sempre que voltavam das férias, depois de um feriado, final de semana…
Com uns 8 anos a Ana começou a dizer que ia estudar Biologia e viajar pelo mundo todo trabalhando. Qual pai ou mãe não se diverte com esses comentários e fica imaginando, “Ah, ela é tão nova, muita coisa vai mudar ainda…”. Não se for a Ana, naturalmente. Ela entrou na faculdade de Biologia aos 17 anos e foi morar em outra cidade, no interior, em uma residência de estudantes, tudo muito de acordo com os planos dela. Que incrível!
Claro que foi difícil, nas primeiras semanas eu fiquei muito ansiosa, insegura, preocupada. Ela, se estava assim também, não deixou que percebêssemos, é claro – “Está tudo bem mãe, pode deixar mãe, fique tranquila, mãe”. Aos poucos fomos nos acostumando, no primeiro ano dela por lá nos afastamos um pouquinho, era natural, ela precisava desse tempo e espaço para se adaptar à sua nova vida. Mas depois ela amadureceu bastante e ficamos até mais próximas, nossa relação amadureceu também. E agora, quase 4 anos depois, ela já está pronta para uma nova etapa de sua vida
A pergunta é, será que eu estou preparada para o que vem por aí? De certo modo acho que sim.
A Ana é muito diferente de mim, e são justamente essas diferenças que eu tanto admiro nela. Quisera eu ser tão decidida, independente e segura quanto a Ana. E ela foi me preparando para isso desde seus dois meses de idade quando, do seu jeito, ela me disse “mãe, eu quero que seja de outro modo”. E vocês acham que alguém poderia impedi-la? Eu tenho certeza que não…
Por outro lado sei que não estou completamente preparada para esse tempo de ausência da Ana na minha vida, tempo que certamente virá. Quem vai almoçar em um sábado gostoso comigo, tomar uma café na livraria, comer cupcakes na Rua Augusta, passear na Galeria Ouro Fino e depois ainda assistir um filme bacana?
Eu não sei com será, é claro. Mas imagino que esse tempo que passamos juntas até agora já deixou marcas e lembranças especiais para ela, assim como deixou para mim. Eu nunca vou esquecer nossas tardes juntas, nunca. E o que posso desejar de melhor para ela é que, se um dia ela vir a ter um filho ou filha, ela estabeleça uma relação assim com ele (a), uma relação próxima, de respeito, muita amizade e muito carinho. Afinal, dizem que os pais que são mais carinhosos com seus filhos estão, na verdade, fazendo um bem para seus netos, tornando seus filhos pais mais carinhosos e amorosos. Assim como meu pai me ensinou, eu quero ensinar AMOR para meus filhos. E deixar essa sementinha germinar…
Um ótima semana para vocês!