Auto-retrato

Toda vez que alguém pergunta o meu nome e eu respondo “Cristina”, sinto uma sensação de enorme estranheza.

Cristina.

Poderia dizer Valéria, Júlia, Daniela, Luzia, Rita… qualquer nome poderia ser o meu, mas o meu nome é Cristina.

Será que quando respondo a alguém que ainda não me conhece “Cristina”, estou conseguindo dizer a essa pessoa quem eu sou, de fato? Oito letras dispostas assim, nessa ordem “C-R-I-S-T-I-N-A” vão conseguir dizer a essa pessoa, naquele minuto, quem eu sou?

E as outras tantas cristinas que existem por aí, o que elas guardam em comum comigo, além do nome (ou parte dele)?

“Eu tenho uma prima chamada Cristina”, essa pessoa poderá dizer… ou “Minha vizinha se chama Cristina”… Mas e que importância isso tem, se as outras márcias, cláudias, lucianas e déboras que você conhece não foram citadas nessa conversa, e eu guardo as mesmas não-semelhanças com elas?

Pois é, complicado…

Escuto meu nome e penso em meus pais, escolhendo meu nome – e nesse caso é fácil – me chamo Cristina porque minha mãe nasceu na cidade de Cristina, em Minas Gerais. Se minha mãe tive nascido em Anápolis, eu me chamaria Ana? Ou em Silvianópolis, eu seria a Sílvia? E se eu fosse a Ana, ou a Sílvia, eu seria a mesma Cristina, essa pessoa que sou agora? Mas se minha mãe tivesse nascido em qualquer outro lugar, será que eu teria nascido?

Aiaiai… começo a pensar e me perco, sem respostas.

Eu sou Cristina, essa Cristina.

Quando me vejo em uma foto certamente vejo a mesma imagem que todas as outras pessoas vêm também, mas eu não me vejo de fato, e nem poderia, afinal eu não tenho a mesma perspectiva que as pessoas têm de mim.

Eu não vejo a Cristina, eu vejo o mundo através da Cristina, então como posso me reconhecer naquela foto?

Nunca me reconheço.

Olho, curiosa, uma versão de mim que as pessoas enxergam e me pergunto: quem sou eu, afinal?

Preciso fazer um auto-retrato.


8 comentários em “Auto-retrato”

  1. O que eu vejo da Cristina é uma pessoa sensível, humana e generosa que tive o priviégio de conhecer. Alguem que luta para a elevação da arte neste país tão carente de belezas e muito generosa na promoção de novos talentos. Uma pesoa linda como está nesta foto do post. Beijo Cris!

  2. Se não fosse a artista tão talentosa, seria excelente escritora… Ou será q não: é esse dom do belo q te faz ser tão expressiva?
    Bjins, minha reflexiva CRISTINA!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.