Composição com cores

Compor com cores talvez seja a melhor definição do meu trabalho.
Sem elas, confesso, não sei nem por onde começar…
Esse último post da série de três, sobra as cores, que escrevi em 2010 e publico novamente agora ee uam reflexão sobre essa característica do meu trabalho e como me organizo para fazê-lo.
Compartilho com vocês.

Para ilustrar esse texto, em que aponto algumas possibilidades para a composição com cores, mais uma vez vou colocar fotos de serigrafias minhas, com os mesmos motivos e cores diferentes. Acredito que essas imagens possam ajudar vocês quando quiserem fazer uma composição com cores ou um estudo de cores para uma pintura:

Flores em amarelo

As cores podem ser ordenadas em um círculo ou escala cromática, muito utilizado para auxiliar os artistas na composição dos trabalhos. Nesse círculo as cores são colocadas lado a lado, as primárias, secundárias e todas as intermediárias entre elas. Ao dispormos as cores desse modo, encontraremos para cada cor, sua correspondente complementar, que é aquela cor que fica exatamente em frente à outra no círculo cromático.

Há uma ideia bastante difundida de que as cores complementares seriam naturalmente harmoniosas, mas essa ideia não está exatamente correta. Na verdade podemos dizer que as complementares são cores contrastantes e que a combinação delas, causando esse contraste, pode ser uma possibilidade de composição. Mas harmonia entre as cores é algo mais complexo, já que envolve também o equilíbrio entre a saturação das matizes, o contraste entre luz e sombra ou claro e escuro.

Porém, baseado nesse primeiro critério, das complementares no círculo cromático, sabemos que:

– O VERDE é a cor complementar do VERMELHO
– O VIOLETA é o complementar do AMARELO
– O LARANJA é o complementar do AZUL

Mesmo par de flores, agora com azul

Mas vale observar que o círculo cromático não nos indica apenas as cores opostas: todas as demais cores estão lá representadas, na exata posição em que devem ficar de forma que possamos passar por todas as cores na sequência exata em que elas se apresentam. Por exemplo: se partirmos do amarelo, até chegarmos ao magenta passaremos por diversos tons de laranja e vermelho. Se continuarmos seguindo na mesma direção até o azul cyan, encontraremos diversos tons de violeta e azul anil, e seguindo na deireção do amarelo passaremos pelos turquesas e verdes. Por isso, ao observarmos os círculo, encontraremos na direção oposta, a 180 graus, a cor complementar. E ao lado da COMPLEMENTAR, a cerca de 30 graus, tanto para direita como para a esquerda, encontraremos as cores CONCORDANTES, a creca de 60 graus para cada lado encontraremos as cores ACORDANTES e se nos afastarmos até 90 graus, também para ambos os lados, encontraremos as cores DISCORDANTES.

A cor COMPLEMENTAR, embora seja a cor com maior oposição à cor escolhida, e portanto a que cria maior tensão entre elas, pode também representar o equilíbrio em uma composição, já que há uma interação entre as matizes, o que falta em uma, encontra-se na outra. A visão de uma cor reforça o cromatismo da outra, ou seja, o amarelo fica mais amarelo na presença do violeta. Por isso a composição com as complementares pode ser positiva.

A cor CONCORDANTE tem esse contraste levemente diminuido, por isso a combinação entre elas pode ser mais harmoniosa.

A cor ACORDANTE ainda apresenta forte contraste cromático com a cor original, mas com menos concordância, já que se afasta mais do eixo central.

E, por fim, a cor DISCORDANTE, e que está, portanto na metade do caminho entre a cor original e sua complementar, são particulares porque não tem a conotação de complementaridade das demais cores ao mesmo tempo que ainda é bastante destoante da cor original.

Parece complicado? Bem, vamos tentar entender isso com exemplos. Olhando a cor AMARELO como a cor principal, encontraremos o violeta como complementar, sua cor oposta. O azul e o anil serão suas cores concordantes, ou seja, as cores que se afastam um pouco da complementar no círculo cromático, porém ainda estão bem opostas a ela. O turquesa e o magenta serão as acordantes, as cores que se afastam mais das complementares, e o púrpura e o verde serão as discordantes, as que estão na metade do caminho entre a cor principal e sua complementar.

Mesmas flores, agora em vermelho

A utilização de todas as cores, COMPLEMENTARES, CONCORDANTES, ACORDANTES OU DISCORDANTES pode ser beneficiada de acordo com a proporção de cada uma delas em uma composição. Por isso eu comentei ontem, não existem cores que não combinem. O que existe é uma combinação em proporções harmoniosas e que fica mais ou menos agradável ao ser observada.

E não existe apenas a matiz, existem também suas diferentes intensidades. A intensidade de uma cor é o quanto ela está pura, sem adição de branco ou preto. A cor mais intensa é, portanto, a cor pura. Quando adicionamos branco, dizemos que a cor foi dessaturada e quando adicionamos o preto dizemos que a cor foi rebaixada. A adição de branco clareia a cor, porém a faz perder sua capacidade de “colorir”, sua intensidade. E a adição de preto causa o mesmo efeito só que escurecendo a cor, ela também perde sua intensidade e capacidade de “colorir”. Se acrescentarmos ao mesmo tempo branco e preto (ou seja, cinza) a cor ficará neutra. As cores neutralizadas se aproximam dos tons pastéis, muito utilizados nas pinturas decorativas.

Aprendi com meu professor de aquarela (já falei dele em outros posts) uma regrinha básica para uma composição harmoniosa de cores:
1. Escolher a cor dominante
2. Usar discordantes em pouca quantidade e em igual intensidade que a cor original
3. Usar complementar e acordante em pouca quantidade e maior intensidade ou numa quantidade maior só que em tom rebaixado

Mas essa é apenas uma das regras, existem infinitas combinações que podemos fazer com as cores, combinando-as entre si e variando suas intensidades. As serigrafias que coloquei nesse post ilustram esse exercício muito bem, por isso as escolhi. Observem que as cores escolhidas para as flores e fundos segue essa regrinha: utilizei uma cor principal para a flor, que eu queria destacar, e na flor essa cor está bem intensa. O fundo de cada composição foi feito com sua complementar suavizada pelo branco, ou seja, dessaturada. E as folhas foram feitas com cores discordantes, também neutralizadas pela adição de branco ou cinza.


Flor em tons de magenta, fundo amarelo dessaturado (com branco) e detalhes feitos com suas cores discordantes e acordantes, turquesa (miolo da flor) e verdes neutralizados com cinza (folhas).

Não existem apenas as cores amarelo, vermelho, azul, verde e violeta, existem todas as cores entre elas e todas podem ser suavizadas ou realçadas, não apenas coma adição de outras cores mas também pelo simples fato de estarem dispostas lado a lado.
As cores são ilimitadas, e as possibilidades de se compor com elas também.

Ah, e no meu DVD de Mandalas, além de ensinar a fazê-las com algumas técnicas em vidro e acetato, ainda falo sobre composição com cores.
Aproveitem, está com preço promocional. 😀


2 comentários em “Composição com cores”

    1. Oi, Andrey… Nesse contexto, rebaixado ou cor rebaixada é quando tiramos a intensidade da cor, misturando, por exemplo, um tom neutro na cor, um cinza claro, um leve sépia, ou até mesmo o branco, deixando a cor menos intensa, “rebaixada”.

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