Dia da Árvore, dia da “nossa árvore”..

Olá a todos!

Passei o dia buscando um momento em que eu pudesse escrever um pouco sobre o dia de hoje, o Dia da Árvore. Pena que essa hora veio só agora, quase no finalzinho do dia…

Eu tenho tantas coisas para falar sobre as árvores, tantas!
Elas transformaram minha vida, transformaram meu trabalho, sobretudo nesse último ano. Mas disso vocês já sabem, afinal, quem me acompanha aqui tem visto, quase que diariamente, um post, foto ou comentário falando da minha série “A Árvore do Dia”.

E como disso vocês já estão até cansados de saber, como se diz por aí, resolvi que hoje vou falar de outras árvores, vou falar da árvore que marcou minha vida, da “nossa árvore”.

Meu avô materno tinha um sítio em Extrema, sul de Minas Gerais. Ele comprou aquele pedacinho de terra, 32 alqueires na beira da Rodovia Fernão Dias, exatamente no dia em que eu nasci, 30 de setembro de 1967. Sempre me lembrei disso, minha mãe me dizendo: “seu avô estava comprando o sítio quando fui para o hospital para ter você”. Ele tinha passado a maior parte da vida em pequenas cidades do interior de Minas e acabou vindo morar em São Paulo com os filhos mais crescidos, mas sempre guardou aquela vontade de ter “uma terrinha” em Minas, e, ao se aposentar, foi exatamente o que fez, comprou seu sítio.

Não sei exatamente o porquê, mas aquele sítio, aquele pedacinho de terra nesse mundo, marcou minha vida de um jeito muito, muito especial, como nenhuma outra coisa marcou. Adorava ir para lá, adorava, adorava! Era o lugar do mundo em que eu mais gostava de estar, sempre. Com seus morros, cachoeiras, estradas, bosques, adorava aquele lugar.

Nós tivemos esse sítio por 15 anos, e por 15 anos eu e minha família passamos boa parte das férias e muitos feriados por lá. Me lembro do caminho que fazíamos de casa, ainda em Santo André, até o sítio. Me lembro das ruas que pegávamos, dos lugares em que passávamos, da estrada… Lembro de cada detalhe, como se fosse ontem, como se não tivessem passado 30 anos desde a última vez que estive lá. Lembro das curvas que o carro fazia, lembro das paisagens e lembro, sobretudo, das árvores.

Eu me guiava pelas árvores, aquelas que a gente avista da estrada, quando está nos carros… Lembro de alguns trechos da estrada com várias árvores juntas, formando uma alameda, com sombras e aquele frescor que vêm das árvores… Lembro também de algumas árvores sozinhas, que ficavam na paisagem como personagens de uma história. Lembro da sensação de alegria que me dava quando eu avistava um pequeno morro com cinco arvorezinhas enfileiradas, que ficavam no sítio vizinho ao do meu avô, sinalizando que já estávamos chegando, que sim, havíamos chegado!

No sítio do meu avô, no alto do primeiro morro, o que ficava mais perto da estrada, havia uma árvore, um carvalho, que meu pai batizou de “nossa árvore”. Esse carvalho – que certamente ainda está lá – se destacava na paisagem, era mais esguio, tinha um tronco alto e uma copa bem desenhada, mas não muito cerrada – e bem irregular.

Isso, aliás, era o que me chamava mais atenção, a copa não era simétrica, ela era bem diferente em cada um dos seus lados, um lado era mais arredondado e o outro mais alongado, com uma ponta saliente. E ele ficava lá, isolado, sozinho, bem no alto da estradinha que saía do pé da estrada principal, como se olhasse para o sítio, tomasse conta dele, e ao mesmo tempo dissesse a todos “É aqui, aqui é o lugar!”.

Todas as vezes em que íamos para o sítio, meu pai dava um jeito de organizar a nossa caminhada, a caminhada até a “nossa árvore”. Aquele era o momento mágico da viagem, meu pai parecia o chefe de uma expedição importantíssima, valente, forte, corajoso, o líder de nossas maiores aventuras. E nós éramos seus seguidores, seus aprendizes. Íamos caminhando, eu, meus irmãos, nossa mãe e outros parentes que por vezes se juntavam a nós.

Era quase um ritual, uma cerimônia.

Lá íamos nós, satisfeitos, conversando animados, ouvindo as histórias do meu pai, às vezes cantando, outras vezes caminhando em silêncio e ouvindo os ruídos do mato (os grilos, o estalar das árvores e do mato, a água correndo na nascente, os bichos)… Íamos ao encontro da “nossa árvore”.

E ao chegar lá, ao pé do nosso carvalho, avistávamos o sítio todo: de um lado a estrada, e mais ao fundo, as montanhas da Serra da Mantiqueira; lá no centro e abaixo, a casa principal; mais abaixo o lago. Acima a estradinha que levava da casa até as cachoeiras, o estábulo, o pasto do gado, a casa do caseiro, as hortas, o pomar… O sítio inteiro aos pés daquele carvalho, da “nossa árvore”.

Naqueles momentos, quando eu estava lá, ainda menina, tudo o que eu queria era ser aquele carvalho, ser aquela árvore e ter aquele sítio, o lugar do mundo que eu mais amava, só para mim, e sempre para mim.

Por muitos anos foi essa a sensação mais forte que eu tive. Eu queria ser aquela árvore, que estava sempre lá, e sempre tão certa, tão segura, tão única. Como ela, não havia outra. Havia muitas e muitas árvores no sítio, muitos carvalhos, inclusive. Mas nenhum era como aquele. Aquele era único. Era a “nossa árvore”.

Um belo dia meu avô nos avisou, por telefone, que havia vendido o sítio.
Assim, de uma hora para outra, sem despedidas, sem conversas, sem tempo para me preparar, nada. Ele se cansou e vendeu, simples assim. Eu tinha 14, 15 anos, e fiquei arrasada, arrasada.

Por meses eu sonhei com o sítio toda semana, chorava o tempo todo, lembrava e chorava. Foi a primeira vez que eu realmente senti o que é perder algo, perder algo extremamente caro e valioso, e mais, perder algo que nunca, nunca será reposto. Nunca haverá outro sítio como aquele, e nunca haverá outra árvore como a “nossa árvore”.

Ainda sonho com o sítio do meu avô – durante toda minha vida eu tenho sonhado com ele, na verdade acho que sempre irei sonhar…

Ainda tenho na memória o desenho da estrada, da casa, da serra, das árvores e do nosso carvalho. Muitas vezes a sensação mais dolorosa é justamente saber que aquele lugar do mundo ainda existe, está lá, mas não mais para mim.

Mas o que o sítio do meu avô me marcou, já está gravado em mim e na minha história – isso não muda mais. Quando eu comecei a desenhar e pintar minhas árvores, me dei conta que muito daquele carvalho estava lá, em meu trabalho.

Na verdade está lá.
Está na assimetria das copas, nas estampas da paisagem, nas cores calorosas e familiares, nos traços marcados. Cada árvore que eu faço é um pouco aquele carvalho, e mais do que isso, é o que aquele carvalho deixou para mim. E nessa hora eu sinto que posso, sim, ser aquela árvore. Eu sou aquela árvore e tudo o que ela me transformou.

Agradeço ao meu pai, à minha mãe e, naturalmente, ao meu avô (que por coincidência tinha como sobrenome Carvalho), por me presentearem com uma árvore, uma árvore que tanto marcou a minha vida.
Todo mundo nessa vida precisa de uma árvore, uma árvore para cultivar, uma árvore para ser a sua vida, uma árvore para viver. Desejo que cada um de vocês encontre a sua.

Cristina Bottallo


E a primavera chegou!

12 comentários em “Dia da Árvore, dia da “nossa árvore”..”

  1. Cristina que história linda!!!! Me lembrei, inclusive, com sensações e cheiros, de quando criança vinhamos passar férias em Marataízes(onde moro hoje) e de longe, logo na chegada, eu e meus irmãos, gritávamos, vi o mar primeiro! era uma farra, o picnic que fazíamos no morro da caixa d’água… Que saudade!!! Como é bom ter lembranças boas e poder conta-las. Parabéns pelos trabalhos e pela história linda e tão bem contada.
    bjs

  2. Ai, Cris… agora fiquei triste por não ter uma ávore minha… eu quero uma!!! Mas será que pode ser em um lugar com menos bichos que um sitio… eu e eles não nos damos bem… rsrsrs…

    É… preciso de uma árvore minha…

  3. Oi Cris,

    Linda história!
    Fez lembrar da minha infância…quando eu e minhas irmãs morávamos em uma casa que tinha um quintal enorme, cheio de arvores.Onde ficavamos brincando a tarde toda.Na nossa imaginação as arvores eram nossas naves espaciais ou carros.Penduravamos as bonecas lá,rsrs era muito legal…saudades.
    As arvores da sua infância deixou para você uma energia muito boa que você transmite para seus trabalhos que são maravilhosos!
    Beijos e tudo de bom!

    1. Oi, Janaína, essas são as melhores lembranças, não? Muito bom mesmo… eu realmente carrego essa lembrança boa, não só das ´ravores, mas do sítio do meu avô, de todo aquele lugar. Ai, que saudades… 😉

  4. Cris,
    Ai, que lindo!! Você sempre escreve tão bem sobre suas memória!, Até consigo ver a família caminhando em direção ao carvalho.
    Que ele, o seu carvalho, esteja sempre lhe inspirando e rendendo bons resultados!!
    Bjos.
    Flames

    1. Oi, Flames, muito obrigada… Demorei para responder, me desculpe. Essas lembranças são especiais para mim. E as árvores têm me trazido muita inspiração sim.
      Beijos!

  5. Já falei pra vc, minha filha nasceu no dia da árvore, tem uma tatuada nas costas… Meu irmão é agrônomo e meu pai sempre foi agricultor.
    Árvores e a natureza são tudo bom e eu me sinto representada por vc nessa homenagem a elas…
    De novo obrigada, Cris…
    Bjins

    1. Sim, Dirce, as árvores são um símbolo importantíssimo para todos nós… eu tenho uma relação insuperável com elas, hoje eu sei… e acho ótimo.
      Beijos!

  6. ola…
    Me fez lembrar de quando era criança e mudamos pra uma casa com um quintal imenso e todos meus irmãos escolheram umas arvore pra chamar de sua,e eu a mais pequenina só sobrou a goiabeira e ela era tudo pra mim,o meu palco pra representar,cantar e ela me embalava de uma maneira que só eu sabia como,pendurava tb as bonecas e voava em seus galhos,na minha imaginação de criança voava mesmo,vc acredita?
    São tantas estória que vivi ali…..Já se passaram mais de 45 anos e….E agora me lembrei disso.Obrigada por me fazer recordar da minha árvore….
    Obrigada mesmo e um beijo.

    1. Oi, Romelia, que lindo, lindas palavras… Acho que essas coisas que marcaram nossa infância são as nossas lembranças sempre mais fortes, né? Muito bom mesmo, bom saber que meu texto te trouxe boas lembranças. Beijos!

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