Sobre meu pai e outras coisinhas…

Olá, amigas e amigos…

Tenho dividido meus dias como vocês, e já falei aqui mais de uma vez que essa experiência do “post todo dia” foi a coisa mais bacana que me aconteceu nos últimos tempos. Começou como uma maneira de me obrigar a produzir mais – eu vinha de um período de certo afastamento do trabalho, precisava de um compromisso para me trazer de volta, e meu compromisso foi firmado com vocês.

Isso, somado ao fato de que gosto muito de escrever, me fez ter vontade de falar de outros assuntos também, e esse não é o primeiro post que escrevo sobre temas diferentes de artes e trabalhos manuais, vocês bem sabem disso. Então aí vai mais um desses, uma conversa… Preciso contar a vocês como estou…

Meu pai está hospitalizado na UTI há 21 dias e ficou em coma induzido por duas semanas. Sua situação está estável agora, ele saiu do período crítico e está voltando do coma muito lentamente. Ele está sem os medicamentos há uma semana, mas só no sábado começou a esboçar algumas reações, bocejando e mexendo as sobrancelhas.

Eu e meus irmãos nos revezamos ficando com ele todos os dias e ontem eu estava lá, no final da tarde, só eu e ele, e comecei a conversar, apertar sua mão, massagear suas pernas… Ele estava de olhos fechados, ainda dormindo, com vários tubos ligados ao seu corpo, inclusive o respirador em seu pescoço (ele fez uma traqueostomia, um tubo ligado ao respirador foi encaixado em sua garganta, diretamente em sua traquéia, para auxiliá-lo com a respiração, que ele ainda não consegue controlar sozinho), quando ele começou a chorar, de olhos fechados, enquanto eu falava com ele.

Aquilo me emocionou demais, estávamos conectados, ele me entendia, e seu choro era a manifestação de sua compreensão, sua maneira de fazer contato comigo. Ele estava de volta!

Fiquei feliz, feliz! Eu queria falar mais, mas ao mesmo tempo me dava um aperto, eu não queria que ele ficasse triste, mas eu queria ter certeza que ele estava lá, então e eu beijava suas mãos e apertava suas pernas, porque eu não podia beijar seu rosto nem abraçá-lo e aquele contato era tudo que poderíamos ter, e eu queria que ele me sentisse presente, e ficamos assim umas duas horas, ele chorava, eu chorava (e disfarçava) e falava o quanto estamos orgulhosos de sua força e coragem, coisas assim.

Quando fui para casa eu estava sentindo um monte de emoções: estava feliz e excitada com os sinais de sua presença e ao mesmo tempo com certa dor no coração, certa melancolia por fazê-lo chorar (ninguém gosta de fazer seus pais chorarem, não é mesmo?), muita ansiedade por saber o que viria em seguida e um turbilhão de pensamentos, pensamentos sobre minha vida, sobre o que realmente importa, sobre nosso destino, sobre o quanto temos controle de fato sobre nossas vidas e o quanto somos surpreendidos o tempo todo…

Hoje eu estava com ele pela manhã e agora ele já abre os olhos, vira o rosto procurando minha voz, mexe as mãos… Ele está acordando, voltando aos poucos, e estar presente nessa hora, vê-lo voltar, é uma emoção indescritível. Eu queria estar com ele cada minuto, participar de cada momento daqui para frente, de fazer por ele o que ele fez por mim e meus irmãos a vida toda – transbordar de amor e nos encher de confiança.

Eu estou feliz e emocionada, muito emocionada para pensar nas minhas coisas… Tudo parece perder o sentido diante da grandeza desse sentimento… Eu sei que preciso encontrar meu eixo de novo, voltar a me concentrar no trabalho, ficar bem para cuidar bem dele, mas confesso a vocês, está difícil pensar em outra coisa.

Meu pai é meu centro, meu porto-seguro, sempre foi assim para mim. Ele é a primeira pessoa em quem penso quando estou feliz e quero compartilhar minha alegria e a primeira pessoa a quem recorro quando estou triste e preciso de colo, de conforto.

Em frente à minha escrivaninha, onde estou sentada agora, em meu ateliê de criação, eu tenho um quadro que meu pai me deu. É um trabalho do artista uruguaio Carlos Páez Vilaró, artista de quem eu gosto muito, que ele comprou quando visitou seu ateliê, em 2000, e que traz uma dedicatória: “A Eduardo con un abrazo de Carlos Páez Vilaró”. Meu pai me deu esse quadro há dois anos, e quando me instalei em meu novo ateliê eu o coloquei aqui, bem pertinho de onde costumo me sentar para escrever e pensar…

O desenho do quadro é um sol, um sol bem colorido, com um rosto tranquilo e com os olhos bem azuis, azuis como os olhos do meu pai. Meu pai é esse sol que está aqui, comigo, o tempo todo. E eu nunca tinha reparado, até hoje, em como esse sol é parecido com o meu pai…

3 comentários em “Sobre meu pai e outras coisinhas…”

  1. Que bom Cris, que seu pai está melhor.
    Estou muito emocionada pelo que escreveu.
    Até fez eu refletir sobre algumas coisas que estão acontecendo na minha vida…

    Bom… fica com Deus e vou continuar orando pelo seu pai.

    Beijão no coração

  2. Oi Cris.
    Procurando algo sobre pessoas que voltaram do coma, encontrei o seu.
    Me emocionei com o que disse aqui.
    Mas minha curiosidade agora é: Como esta isso tudohoje?

    Abraços.

    1. Olá, Edna… pois é, meu pai ficou em coma quase dois meses, ficou internado 11 meses, passou por 11 cirurgias nesse período, teve uma lesão cerebral e outra na coluna, foi complicado. Ele deixou o hospital em abril desse ano, em cadeira de rodas. Hoje ele está ótimo, voltou a trabalhar em ritmo mais lento, e começou a andar com andador há cerca de um mês. A gente precisa acreditar muito e ter muita força de vontade para aguentar o “tranco” de um familiar em coma, mas desistir, nunca! Se for o seu caso, não deisista, muitos médicos estava desacreditando, e ele está ótimo hoje. Beijos e boa sorte!

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