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Mais um pouco sobre cores

Vamos lá, continuando as postagens sobre o tem “cores”, hoje vou falar um pouquinho mais sobre as sensações que elas nos causam e sobre sua influência no ambiente.
Para ilustrar, mais serigrafias:


Flores em amarelo

Muitas vezes as pessoas me perguntam, em aulas e workshops, como combinar as cores, que cor fica bem com que outra cor, como usá-las na decoração. E a maioria diz que não sabe como escolher as cores. Dias atrás eu estava comprando tintas para pintar a parte externa do meu ateliê de serigrafia, e conforme o vendedor ia preparando as tintas na máquina, ia colocando as latas com a tampa vazada mostrando a cor de cada tinta no chão. Aí chegou uma moça que estava procurando tintas para pintar a sala de sau casa e ela ficou encantada com aquelas cores todas, uma ao lado da outra (eram 18 ao todo). Ela ficou agitada vendo aquelas cores todas e começou a me perguntar se eu ia pintar minha casa com aquelas cores, como eu iria combiná-las, como eu iria usar tantas cores e, por fim, ela disse que queria escolher duas cores para pintar parte da sala que já tinha uma parede em azul e pediu uma sugestão.


Mesmas flores, outras cores

O exemplo acima só demonstra como as pessoas ficam anisosas diante das cores, e ouso dizer, sem motivos. E por que digo isso? Porque de fato não existem duas cores que não fiquem bem juntas. Pode apostar. Vou reproduzir o texto do livro “Da Cor à Cor Inexistente”, que já mostrei antes: “Assim como não existe em termos absolutos uma qualificação de cor bela e de cor feia, não existe também dupla de cores irreconciliáveis, impossíveis de serem combinadas. Uma cor combina com outra por afinidade, semelhança, aproximação etc, ou por contraste, dessemelhança, oposição etc.“. E quem vai discordar dessa afirmação? Adoro essa frase!

Bem, claro que existem artifícios e maneiras de se aproveitar das sensações das cores para tirar maior proveito das composições para que elas sejam mais harmoniosas e agradáveis. E para compreender isso, nada melhor do que entender um pouco mais as sensações que as cores nos causam.

Vou utilizar abaixo algumas das definições mais amplamente conhecidas sobre as sensações que as cores nos causam. Essas definições são utilizadas por profissionais de diversas áreas em seus trabalhos: psicoterapeutas em suas clínicas, decoradores e arquitetos em suas construções, designers em seus projetos, publicitários em suas campanhas etc. E, naturalmente, artistas e artesãos, ou seja, profissionais das artes visuais também podem se beneficiar desses conhecimentos.

– Amarelo: o amarelo é a cor da agitação, do movimento. Naturalmente, por ser a cor do sol (ou pelo menos a cor a ele associada), tendemos a ver essa cor como a cor da energia. Também associamos aos sentimentos de fome e urgência, por isso é uma cor muito presnete em restaurantes fast-food.

– Verde: o verde é a cor mais presente na natureza e por isso representa a HARMONIA, o equilíbrio. É uma cor que favorece a tranquilidade.

– Violeta: é uma cor de vibração intensa, porém, por ser mais rara na natureza (e também um pigmento difícil de ser obtido), as cores como o violeta e o roxo podem ser cansativas e devem estar presentes em quantidades menores nos ambientes para não criar um certo desconforto. Por outro lado, é uma cor que sugere raridade, o que é positivo.

– Azul: o azul é a cor da introspecção, do recolhimento. É também uma cor favorável á quietude, ao estudo, ao silêncio. E, naturalmente, tais sensações estão diretamente ligadas o fato do céu ser azul.

– Vermelho: é a cor de maior expansão, ligada aos sentimentos passionais (é a cor do sangue), é estimulante e ligada às comunicações. Por isso tantos avisos, placas, sinais e folders levam essa cor. Por ser estimulamte, também deve ser usada com moderação em determinados ambientes para não criar uma agitação extrema.


Outro modelo de serigrafia com flores

E justamente porque as cores são sensações é que os mesmos motivos pintados com combinações diferentes de cores podem paracer tão distintas, como vocês podem observar nos modelos que coloquei aqui.


Mesmo modelo, outras cores

No próximo post vou encerrar a sequência de posts sobre cores com orientações de como combiná-las e algumas dicas práticas de como escolher a cores para seus projetos em seu ateliê.
Não deixem de passar por aqui, ok?

Até amanhã!


Conversando sobre cores

Hoje vou falar um pouquinho sobre as cores as sensações que elas nos causam. Não que eu seja uma especialista no assunto, mas já li bastante coisa a respeito.
Além disso meu trabalho é todo baseado na composição de cores, então acho que posso passar algumas das minhas experiências com vocês, como sempre faço aqui em meu blog.
Para ilustrar o post, aí vão algumas das minhas serigrafias:


Serigrafia de peixes em tons de rosa e azul com moldura branca

O estudo das cores pode ser bastante técnico – se formos olhar para o lado científico e enxergar as cores exatamente como elas são, fisicamente falando, as cores não existem de fato, elas são a percepção que temos da luz. Uma definição física da cor é “sensação provocada pela ação da luz sobre o órgão da visão” (extraído do livro Da Cor à Cor Inexistente, de Israel Pedrosa).

Pois bem, se até em sua definição original a cor é percepção, imaginemos agora em termos artísticos ou estéticos. A cor é exatamente isso, sensações visuais (e por que não dizer também, emocionais). As cores são aquilo que elas nos provocam. Então uma mesma imagem pode ser percebida de maneiras muito diferentes se mudarmos as cores que a compõe. E mais que isso, uma imagem com cores também sofre interferência das outras cores que estão ao seu redor, das cores do ambiente.


Serigrafia peixes em tons de vermelho e azul com moldura preta

Nos dois modelos acima a mesma imagem foi impressa com combinações diferentes de cores. Na primeira escolhi tons mais suaves, mais pastéis e o resultado foi uma imagem mais “expandida”, com os elementos saltando para fora.

No segundo modelo trabalhei com tons mais puros e fortes, laranja, amarelo, vermelho e azul. O resultado é uma figura mais compacta, com os elementos em “tensão”. Para acentuar ainda mais essa percepção tão diferente das duas imagens, comparem o efeito da primeira gravura, emoldurada com uma moldura branca, que acentua ainda mais essa ideia de expansão, ao passo que no segundo quadro, com a moldura preta e mais estreita a figura parece até encolher, embora as duas gravuras tenham exatamente a mesma medida.

Pois é, não apenas percebemos a luz de maneiras diferentes, determinando assim cada cor, como também podemos combiná-las e ordená-las de maneiras muito particulares, acentuando ainda mais essas senações.


Primeira gravura sem moldura


Segunda gravura sem moldura

Observem que as gravuras acima, sem as molduras, também são percebidas de forma bem distinta.

Agora vamos entender um pouquinho mais esse universo das cores através de algumas definições básicas aplicadas à pintura, ou seja, vou falar aqui sobre as cores utilizadas em tintas e pigmentos, o que é diferente da cor óptica, afinal é isso que nos interessa, não é mesmo?

– Matiz: é a cor pura, primária. Essas cores são também chamadas de indecomponíveis, justamente porque não podem ser obtidas a partir de outras cores. Essas cores são o amarelo, o azul e o vermelho. também são conhecidas como cores primárias.

– Cor secundária: é a cor formada pela mistura de duas cores primárias. As secundárias são: larnaja (mistura de amarelo e vernelho), verde (mistura de azul e amarelo) e violeta (mistura de azul e vermelho).

– Cor terciária: é a cor intermediária entre uma cor secundária e qualquer uma das duas primárias que lhe dão origem. Ao observar um círculo de cores é possível ver uma variedade muito grande de cores intermediárias.

– Cores quentes: são o vermelho e o amarelo e todas as demais cores em que essas cores predominem.

– Cores frias:são o azul e o verde, bem como outras cores predominadas por eles.

Observação: Os verdes, violáceos, carmins e uma infinidade de tons poderão ser classificados como cores frias ou quentes, dependendo da porcntagem de azuis, amarelos e vermelhos em sua composição.

– Luminosidade:
é o grau de claridade de uma cor, em uma escala que vai do branco ao preto (acréscimo mínimo e máximo de brano e preto)

– Saturação: é apureza da cor. Diluir a matiz em água ou misturá-la a outro solvente ou pigemento reduz sua saturação.

Outro modelo de serigrafia de peixes, copm predominância de azuis e vermelhos


Mesmo modelo acima, com outras cores

Vocês percebem como as imagens ficam muito diferentes de acordo com a combinação das cores, das cores que estão ao seu lado? Pois é, por isso é que, ao fazer uma composição de cores, é tão importante quanto escolher as cores dos elementos (figuras), escolher as cores do fundo da pintura ou motivo.

Mas existem muitas outras definições de cores e seu papel nas composições, e vou continuar falando sobre esse tema no post de amanhã, então não deixem de acompanhá-lo, ok?

Ah, e vejam as fotos de alguns dos meus inseparáveis livros sobre o tema:


Dica do dia: Pinceladas do Bauernmalerei

Para relembrar a técnica, essa peça é bem legal
Dá para ver bem os movimentos das pinceladas.
Eu costumo trabalhar com tintas acrílicas decorativas de acabamento fosco, da marca Corfix.

Uma dica bacana e fazer as “vírgulas”, pinceladas de luzes e sombras típicas dessa técnica com a cor de fundo ainda levemente úmida, e o pincel “carregado” nas duas cores.

Bauer

É assim:

Depois que você aplicar a cor de fundo, e não importa qual seja, retire o excesso de tinta com um pano úmido, mas sem lavar em água. Aí pegue a cor que quer aplicar, no mesmo pincela ainda “sujo” com a cor anterior. Você vai notar que o pincel deslizará muito mais fácil, e a pincelada ficará mais leve, não tão marcada como se tivesse sido feita sobre o fundo completamente seco.

Note na foto abaixo como o branco, sobre o vermelho, é levemente mesclado.
Assim sua pintura fica mais bonita e delicada.
😀

Bauer 2


Encarando o trabalho artesanal com profissionalismo

Meu editorial de hoje no site do Clube de Artesanto, uma conversa boa para quem gosta e faz artesanato, como eu.

Quem trabalha com artesanato e produção artesanal conhece bem todas as dificuldades da atividade, e, particularmente algumas delas: falta de reconhecimento, remuneração muitas vezes instável e sazonal, informalidade nas relações comerciais.

Naturalmente existem exceções, mas essa é a realidade da esmagadora maioria dos profissionais. E o problema está justamente aí: a dificuldade em se posicionar como uma profissional.

Muitos artesãos iniciam a atividade como um complemento para sua renda formal, ou, em outros casos, como uma renda adicional ao orçamento doméstico, quando nem há um emprego ou atividade principal. E dessa mesma maneira informal com que o artesão se relaciona com o próprio trabalho, é como as pessoas irão tratar com ele, sem compromisso.

Como mudar essa relação e passar a ser olhado com o respeito profissional merecido?

O primeiro passo é você, artesã ou artesão, encarar seu trabalho com profissionalismo também. É muito comum percebermos que há uma grande informalidade na relação do artesão com seu trabalho, e esse é, sem dúvida, um grande erro.

O artesão não deve simplesmente cuidar de suas amostras, arrumar sua mesa de trabalho e ir atrás de encomendas. Ele deve, sobretudo, conhecer muito bem sua produção para tirar o maior proveito dela, deve saber oferecer seu trabalho valorizando-o devidamente, deve conhecer sua capacidade de produção real para não se comprometer com encomendas que não consegue entregar e deve manter suas contas em dia, não apenas para não ficar sem recursos, mas, principalmente, para saber cobrar pelo seu trabalho.

Abaixo seguem algumas dicas que podem ajudá-la (o) a se organizar e se colocar de forma profissional:

– Mantenha um catálogo atualizado de seus produtos, com amostras e tabelas de preço também atualizadas. Nada menos profissional do que mostrar uma peça de sua produção e não saber dizer o preço a um possível cliente, quando solicitado.

– Tenha muito claro o tempo que você leva para executar uma peça, caso trabalhe com encomendas. E cumpra o prazo combinado, demonstrando profissionalismo, nesses casos.

– Organize seu estoque de matéria prima, não guarde material demais, nem corra o risco de não ter como atender a um pedido por falta de algum produto. Observe sua produção, saiba quanto você utiliza de cada matéria prima em um determinado prazo, e mantenha seu estoque em dia.

– Se optar por trabalhar com encomendas, faça um pedido por escrito, coloque todas as especificações e prazo de entrega, os dados do cliente, contatos. Não há nada menos profissional do que a informalidade no pedido. O cliente precisa perceber que está se comprometendo com a compra e que você é comprometido com seu trabalho.

– É preciso saber aproveitar as oportunidades e fazer sempre bons negócios, mas não aceite fazer grandes mudanças em sua produção se isso não for realmente um ótimo negócio. Descaracterizar seu trabalho, aceitar trocar alguma matéria prima por outra de menor qualidade ou mudar totalmente seu estilo apenas para não deixar de fazer uma venda pode ser um grande erro. A produção artesanal é personalizada e traz a marca do artesão, se você descaracterizá-la, demonstrará falta de profissionalismo também.

Pense nesses tópicos acima e lembre-se do principal: para conseguir o respeito dos outros, você precisa, antes de mais nada, se respeitar. Seja profissional e as pessoas irão tratá-la (o) com profissionalismo também. Esse é um tema muito importante, e que certamente será retomado nesse espaço.

Cristina Bottallo


Arrumando a casa… achei o baú!

Essa semana foi semana de arrumação aqui no meu ateliê, no ateliê da minha casa, nas minhas gavetas, guarda-roupa e papelada…
De vez em quando a gente precisa fazer essas arrumações, não é mesmo?

Eu estava com tanta coisa acumulada e mal guardada aqui no ateliê, que uma das salas estava literalmente interditada, não dava nem para andar. Com as coisas no lugar tudo fica melhor, e o espaço aberto servirá para a produção de novas peças e novos trabalhos.

Tem hora que tudo que a gente precisa é disso, abrir espaço para o novo…

Pois nessa de arrumar tudo, cheguei ao meu mais antigo baú, aquele onde guardo minhas revistas, publicações, fotos e arquivos do meu trabalho em todos os meus 26, 27 anos de carreira… e quanta coisa!

Rever as publicações é legal, vejo o quanto eu fui mudando, como meu trabalho foi evoluindo, melhorando…
E mais, vejo quanta coisa eu já fiz! Tanta coisa que até assusta!

E olha que essa é só uma parte, porque muita coisa que fiz enquanto trabalhava para as empresas Acrilex e Corfix acabei não guardando, são coisas que ficaram nas empresas. Mesmo assim é um montão de coisas, afinal minha primeira matéria em uma revista foi em 1988.
Deve ter gente aqui lendo esse post e que nem tinha nascido ainda!


Meu primeiro baú

Mas o mais curioso de tudo foi “achar” no meio da bagunça daquele quarto que estava interditado meu baú, o primeiro baú que pintei com algo parecido com a pintura bauernmalerei, que me acompanha nesses anos todos e guarda meu arquivo.

Olhando para ele vejo claramente como eu melhorei na pintura.
Ele é visivelmente uma das minhas primeiras peças, os arranjos meio tímidos, as flores meio desencaixadas, as pinceladas imprecisas… Mas é bom ter como comparar uma peça de anos atrás com as peças que fiz mais recentemente.

A pintura, como toda técnica, pode ser aprimorada, e quanto mais a gente pratica, melhor fica. Por isso sempre falo, praticar é fundamental, e aprender é para todos. O que a gente não pode nunca é achar que não está bom e desistir. Se a gente não insiste e segue adiante, nunca vai ficar bom, acreditem.

E quer saber? Adoro o meu primeiro baú!
Ele têm história, uma história comigo, me acompanha em meus diferentes ateliês, desde o primeiro, ainda na minha casa, e espero que continue me acompanhado por muito tempo ainda, com suas pinceladas tortinhas e flores meio esquisitas.

Gosto dele assim mesmo, com suas imperfeições e esquisitices, poisnele é exatamente como nós somos. 🙂